quinta-feira, 12 de abril de 2012

página 2

na segunda página o ãngulo da visão passa a ser a embarcação lusa.
acima do castelo de popa o governador-geral Diogo Botelho e o sargento-mor Diogo de Campos Moreno conversam sobre o novo mundo.

terça-feira, 10 de abril de 2012

SIARÁ - página 1

tamanho a3 artefinalizada a nanquim , pincel e bico-de-pena, em março 2012.
Ednardo Nogueira.

o espanto dos nativos no litoral do Mucuripe ao ver uma caravela lusa se aproximando.

terça-feira, 3 de abril de 2012

capitania da Paraíba, 1602.

Cena 3 da página 18.
enquanto o negro agoniza depois de ter sido chicoteado no pelourinho sua mulher tenta refrescá-lo com água; lá no fundo um mensageiro se aproxima da casa grande do senhor de engenho Pero Coelho de Sousa, o futuro desbravador do Ceará.
De origem açoriana, cunhado do donatário da Paraíba, Frutuoso Barbosa, Coelho de Sousa é homem ambicioso e sua intenção é se tornar rico descobrindo as minas misteriosas de El Dorado
 Mas grande frustração e desgraças o esperam na terra de Siará, pois não conseguirá riqueza, não conseguirá colonizar a terra, verá seus filhos morrendo de fome numa cruel seca e voltará palpérrimo para Lisboa sem dinheiro nem pra comprar sua própria mortalha.

Sua brava mulher teve seu nome, Maria Tomásia, gravada em umas das principais ruas de Fortaleza.
acompanhe o desenrolar dessa história em SIARÁ volumes I e II.

PERO COELHO DE SOUSA

PERO COELHO DE SOUZA (10 DE AGOSTO DE 1603)





A.R Uchoa
O primeiro fato a marcar a história do Aracati foi, sem sombra de dúvida, a chegada à foz do rio Jaguaribe de Pero Coelho de Souza. A data desse episódio inicial aconteceu em 10 de agosto de 1603, dia de São Lourenço no calendário católico e foi essa a razão pela qual o comandante daquela expedição, Pero Coelho de Souza deu nome daquele santo à fortificação que ele mandou edificar para se abrigar dos ventos muito fortes nessa época do ano, e se proteger dos nativos (índios portugueses?). Tivemos ai, portanto, três marcos iniciais: Os primeiros homens brancos a visitar oficialmente a nossa região (Pero Coelho de Souza e alguns de sua comitiva), a primeira data importante da nossa história (10 de agosto de 1603) e o primeiro edifício erguido em terra aracatiense, (o forte ou fortim de São Lourenço), construído provavelmente com as madeiras mais abundantes nas proximidades, o mangue e a carnaúba. Aliás, os materiais utilizados também se revestem de pioneirismo, porque, como todos sabem, dos manguezais e das carnaubeiras, a partir de então, passou a ser retirada grande parte da madeira utilizada na construção de casas e em serventias as mais diversas, (hoje já não se usa mais o mangue devido à proibição impostas pelas leis de proteção ambiental)
Em que pese a opinião contrária de vários historiadores, alegando insuficiência de provas documentais, o fato é que Pero Coelho de Souza e o Forte de São Lourenço, passaram à história como os marcos iniciais do povoado já poucos anos depois noticiado pelos visitantes – São José do Porto dos Barcos. Tanto que a enciclopédia dos municípios brasileiros. Volume XVI, ano 1959, diz textualmente, referindo-se ao lugar em que foi erguido o forte: “tratando-se de lugar seguro para as embarcações, esse ponto veio a ser chamado de São José do porto dos Barcos, e sucessivamente, Cruz das Almas e Santa Cruz do Aracati”. Acha-se que essa tradição tão arraigada na comunicação póstera deva ter sido originada do fato bem expressivo que foi a debandada por Pero Coelho de Souza, o qual após cinco anos de permanência no então Siará Grande teve que retornar a Paraíba acompanhado apenas da família, 18 soldados e um índio fiel, de nome Gonçalo.
Acredita-se que os demais companheiros, chefiados por Simão Nunes, tenham-se dispersado ao longo do Rio Jaguaribe, procurando iniciar vida mais estável. Teriam sido eles os primeiros colonos das regiões os futuros ou pais de futuros charqueadores. Segundo os relatos as coisas parecem ter se passado assim, de uma forma resumida: tudo começou com a chegada à Paraíba, no inicio do ano de 1603, do governador geral Diogo Botelho com a decisão de incrementar o desenvolvimento até então morno da capitania do Ceará, de explorar a região do Jaguaribe à procura de minas de ouro e prata, inclusive fundando povoados nos sítios mais apropriados e, em sequência, dar combate aos franceses que tinham aportado no Maranhão e já ocupavam a serra da Ibiapaba, no norte do Ceará, tentando abocanhar uma fatia do imenso território que os portugueses tinham tomado só para si. Por ultimo, objetivam também dilatar a fé, isso significando na maneira de dizer da época aumentar o reino de Deus pela conversão dos habitantes locais a fé católica. A empreitada era claramente muito difícil, mas logo se apresentou um candidato com o perfil considerado adequado para o tamanho do empreendimento. Tratava-se do açoriano Pero Coelho de Souza individuo conhecido como aventureiro, mas que tinha algumas das características exigidas: era branco e de origem nobre, havia participado de outras expedições guerreiras e principalmente exibia no curriculum vitae um predicado fundamental, uma ambição incomensurável que ele tentava esconder, argumentando nada querer em troca, tão somente “mercês honoríficas de sua majestade apenas para si e para os oficiais de seu séquito”, o que na verdade não era pedir muito, já que havia o risco e esse era o costume: o cidadão topava o risco tremendamente elevado de empreendimento em região selvagem e inóspita, mas recebendo em troca terras, poderes, títulos de nobreza, como compensação.
Dizem os historiadores que a expedição foi toda planejada, iniciando com reunião estratégica de um conselho de Olinda no dia 21 de Janeiro de 1603 para aprovação do projeto, que teve voto contra de Manoel Mascarenhas Homem e a favor de Feliciano Coelho de Carvalho, Gaspar de Figueiredo Homem, Diogo de Campos Moreno e João Barbosa de Almeida. Foi também aprovado um regimento interno para a expedição, a fim de dar racionalidade às ações e facilitar o comando de Pero Coelho de Sousa, sobre os seus comandados. Mas apesar do planejamento estratégico cuidadoso e da grande comitiva de 65 soldados e 200 índios, as coisas não saíram como pensado e ao final e ao cabo a expedição redundou em fracasso, ao menos na visão em curto prazo de Pero Coelho de Souza, pois não se achou nem ouro nem prata, os franceses continuaram no maranhão e as tais mercês honoríficas nunca foram concedidas, vindo Pero Coelho de Souza a falecer em Portugal, anos depois, na miséria e em completo abandono social, e sobretudo ignorado por todos. Com a volta a Portugal em busca das tais mercês, o infortunado explorador não pôde tomar conhecimento do sucesso da expedição no médio e longo prazo quando começaram a aparecer os resultados da exploração econômica das várzeas do Rio Jaguaribe e que era na verdade um dos objetivos oficiais do empreendimento, embora não necessariamente na cabeça de Pero coelho de Souza, obcecado que era apenas por resultados imediatos, as tais mercês honoríficos, e cegos aos resultados futuros, de prazo bem mais distante.
Não soube, por exemplo, que no local ou no entorno do local onde existia o forte ou Fortim de São Lourenço, poucos anos depois já se ouviria falar que um pequeno povoado, conhecido como São José do Porto dos Barcos, e que chamava a atenção dos viajantes, cujos moradores viviam basicamente da pesca no Rio Jaguaribe, mas também de atividades agrícolas diversas, cujos excedentes vendiam naquilo que seriam as primeiras feiras do Ceará. É perfeitamente válido que se possa especular que a construção de embarcações, o plantio de milho e feijão, a criação de pequenos animais e o trato de cajueiros nativos, muito abundantes na região, tenham sido as atividades desses homens e mulheres nestes dias originais. Também não teve a felicidade de ser informado dos progressos que alcançavam no criatório de gado aqueles seus companheiros que debandaram da expedição, mas que não voltaram para a Paraíba, preferindo continuar habitando a região do Jaguaribe, rio acima, juntamente com outros aventureiros que vinham rio abaixo, certamente convencidos da viabilidade de suas férteis várzeas para a instalação de seus primeiros roçados e de suas primeiras fazendas. Sempre perseguido pela má sorte, jamais imaginou que os netos daqueles pioneiros viessem a fazer fortuna, mal passados 100 anos, com um processo novo de conservação das carnes dos 20 a 25 mil bois abatidos anualmente nas oficinas de carne e que ficaram posteriormente conhecidas como charquedas, uma indústria (a primeira indústria) que por pelo menos um século seria a principal alavanca do desenvolvimento, tanto local como regional.
E, sobretudo não foi capaz de perceber que a sua luta de quase dois anos pela manutenção e crescimento do Forte de São Lourenço só daria resultado anos depois, culminando em 1714, quando a comunidade de São José do Porto dos Barcos, tendo à frente um grupo de charqueadores endinheirados, orgulhosamente inaugurava a primeira capela, “frente de tijolos, coberta de palha”, sinalização para o governo da capitania de que os “enormes investimentos feitos” começavam a mostrar resultados práticos para a Coroa portuguesa e para a cristandade, a ponto de um dos primeiros historiadores do Brasil e da América portuguesa, Sebastião da Rocha Pita, descrevendo a capitania do Ceará em 1727, destacar a pequena São José do Porto dos Barcos como “povoação formosa, à beira do Jaguaribe”, enquanto não contemporiza com a restante província, a qual define laconicamente como “a mais áspera e inútil do Brasil” (aliás, sobre a futura capital cearense ele informa que ela tinha “um pouco mais de trezentos moradores e logra de cidade só o privilégio”). Também jamais poderia imaginar que do seu malfadado empreendimento se originaria em poucos anos uma atividade econômica com todas as qualidades típicas capitalismo liberal: livre iniciativa, produção em escala industrial, comercialização com logística apropriada ao tamanho da demanda, globalização de mercado, nenhum controle de governo e, como seria de esperar a época, nenhuma preocupação com o meio ambiente.
Homem de ação e que perseguia apenas resultados imediatos, é pouco provável que Pero Coelho de Souza alguma vez sequer tivesse pensado na possibilidade de não colher pessoalmente os resultados de seus grandes trabalhos, mas, para a felicidade sua foi o que aconteceu, não obteve ganhos de curto prazo, as tal mercês honoríficas, mas hoje seu nome está escrito nos livros históricos de pelo menos quatro estados brasileiros, Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba e Pernambuco, concedendo alguma mercê, ainda que as não buscadas (malditas mercês!!!), ao valente empreendedor reconhecido postumamente pela visão socioeconômica dos nossos dias como um homem verdadeiramente a frente do seu tempo mesmo que à época ele não tenha percebido.
A outra fortificação erguida por Pero Coelho de Souza o Forte São Tiago, na foz do Rio Ceará, também não teve sucesso em que pese ter sido comandada a maior parte do tempo, após a resistência de Pero Coelho de Souza, por um homem de tempera mais forte e de mais preparo psicológico, Martim Soares Moreno, um dos companheiros de Pero na expedição de 1603 e que terminou passando a história como fundador do Ceará pela persistência demonstrada no fortalecimento da colônia e pela habilidade que tinha no trato com os índios (É o formoso guerreiro branco no romance indianista Iracema, de José de Alencar). Mas mesmo reconhecendo o trabalho de Martim Soares moreno, alguns historiadores de fortaleza recentemente tentaram resgatar em favor de Pero Coelho de Souza a primazia dessa fundação com um projeto lançado na Câmara Municipal em que alterava a fundação da capital cearense e que não foi aprovado, ao menos nessa primeira vez. Por enquanto, continua firme por aqui a falta de sorte do famoso aventureiro, certamente por causa da sua desistência precoce, cabendo aqui uma indagação para futuras pesquisas: por que desistiu Pero Coelho de Souza tão rapidamente, frustrando as expectativas iniciais do planejamento e contrariando o seu intuito evidente de permanência definitiva, tanto que trouxe a mulher e os cinco filhos?- O motivo estaria relacionado apenas à obsessão pelas azaradas e inoportunas mercês? Ou teria sido tão somente falta de persistência e abundância